sábado, 27 de abril de 2013

Nosso corpo não foi feito pra suportar tudo. A gente suporta um pouco de fome... um pouco de sede... um pouco de calor... um pouco de frio... a gente suporta um pouco de dor... um pouco mais se preciso for.

Mas há um limite. Chega uma hora em que o corpo desiste. Pode até ter sido treinado pra aguentar... mas aguenta até um determinado ponto. Depois vai se entregando devagarinho. Definha e morre.

Há dores suportáveis... maleáveis, moldáveis... acostumáveis.... essas dores são horríveis, porque a gente se acostuma a elas; a gente se conforma, pega a forma delas e torna o corpo exatamente igual a elas.

Procure por alguém que esteja com uma dor suportável.... tenho certeza de que você vai identificar vários alguéns por aí.

Pior que uma dor insuportável é a dor suportável. Sabe por quê? Porque a dor suportável vai cortando a gente devagarinho, rebentando pedacinho por pedacinho, cada dia um pouquinho. O corpo vai minguando, se entortando... a dor corroendo cada ossinho, até quebrar em milhões da caquinhos.

A dor insuportável arrebenta você de vez, sem dó nem piedade. Não engana, mostra a cara e diz a que veio... a dor insuportável é perfeita e absolutamente suportável.

A minha dor é uma dor insuportável que age como se fosse absolutamente suportável. Me arrebentou e continua arrebentando cada pedacinho em mais de um milhão de pedacinhos....

Ontem à noite sonhei... ultimamente só tenho tido pesadelos... Eu estava em um circo... tudo tão colorido, música de circo, cheiro de circo... e quem andava na corda bamba era meu pequenininho... lá em cima se equilibrando ele parecia mais pequenininho ainda, mais indefeso.... mas sorria e se equilibrava com uma enorme maestria... e eu também sorria...

Acordei e consegui me odiar mais ainda...

Como posso me divertir sem o meu filhote do meu lado?


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Estou no meio de um ciclo autodestrutivo de comportamento. Não vou interrompê-lo, não vou sair dele... vou andar em círculos até ficar tão tonta que não me será mais possível ficar em pé.

Permanecerei viva... claro; embora sinto-me tão morta que preciso mutilar-me pra confirmar que estou viva... mas é só um pedacinho por vez... um pedacinho do corpo, um pedacinho da alma... do corpo... da alma. Entre uma mutilação e outra, espero a reconstrução completa do que foi destruído... e recomeço.

Preciso manter um pouco de sanidade, preciso estar inteira... ou inteira pela metade... porque as coisas podem mudar, né? E se mudarem e eu não estiver mais aqui... estiver morta?

Tenho de estar viva... pelo meu filhinho.

Se me envergonho dessa minha autodestruição aos pedaços? Claro que não... é o que me mantém viva... é o que não permite que a insanidade tome completamente conta de mim, dando cabo à minha própria vida. Então, não me envergonho do meu comportamento degradado. Ele me mantém viva.

Vou terminar esta parte citando Renato Russo: "Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade.
Tudo está perdido mas existem possibilidades".

Grande cara esse... entendia do que estou falando... e isso é bom... faz não me sentir sozinha neste mundo insano.

domingo, 21 de abril de 2013

Como falei no início, minha hstória começou com o fim da minha sobriedade (dentre o fim de tantas outras coisas boas).

Tinha vida antes do começo desta história? Claro, é óbvio... não estou contando minha história desde o meu nascimento. Nasci... como todo mundo nasce... vivi... como todo mundo vive - dias bons, dias ruins, dias de felicidade, dias de tristeza - um dia depois do outro, exatamente como é normal viver.

Nada que precisasse ser contado... que o mundo já não soubesse.

Também não quero dizer que o que vou contar é exclusivo meu. O que aconteceu comigo já aconteceu com muitas outras pessoas - pode ser até que você conheça algumas delas, pode ser até que você seja uma delas (uma das que compartilha a mesma experiência).

Decidi contar o que me aconteceu porque... Pensando bem, nem sei por que razão. Tudo o que me falta agora é razão. A única coisa que eu deveria fazer é estar por aí... correndo o mundo, vasculhando cada pedaço deste mundo, entrando em cada buraco, em cada porta,,, entrando e saindo, correndo atrás do que era a razão da minha vida, da minha sobriedade: a minha vida até o momento em que meus olhos cruzaram com o do palhaço, passaram para os balões coloridos, pro meu filho indo na direção do palhaço, pra sua mãozinha segurando o balão - amarelo, ou vermelho, nunca lembro -, pro lanche esparramado no chão, pras laranjas rolando pra debaixo de um banco, pro vazio. Onde está o palhaço?

E aí fim... fim da minha sobriedade.... ou melhor, mantive-a por mais alguns instantes, minutos... um tempinho  mais. E fim!

Sobriedade, qualidade de quem tem equilíbrio, de quem sabe colocar-se limites, age com tranquilidade, mantém a compostura, em quem não há sombra de nenhum distúrbio mental, tem o controle de suas emoções, sente paz interior, demonstra sossego, mostra prudência, etc., etc. e mais etcs. - tudo positivo.

Eu sou, ou melhor, estou no tudo negativo do que acabei de listar.

Então, pense... pense em como é viver assim, conviver com alguém assim: tudo no negativo... Meu passado - depois do palhaço - é um açoite transformando meus dias em maldição...o presente é minha escravidão.

Futuro!? Ironia da vida....

terça-feira, 16 de abril de 2013

Um momento de felicidade.... o palhaço, o sorriso escancarado na cara... colorido, os balões... meu pequeninho... sua mãozinha... um balão colorido....

Um mundo de sofrimento... tudo em branco e preto, mais preto do que branco...

Pensa em um cofrinho, um cofrinho do tipo de latinha de cerveja. Só há uma abertura, fininha...

Agora aumente-o pra 1,68 m... eu dentro dele... vagando pelo infinito, sem saber se vou chegar a algum lugar, ou a lugar nenhum... só meus pés podem tocá-lo. Tenho 1,68... sou do tamanho exato da latinha, mas não posso tocá-la com a cabeça, tenho de manter o corpo curvado... tenho de me equilibrar, não posso tocar os lados... meu corpo todo dói imensamente, sinto como se fossem agulhas em cada músculo meu. E o ar... não é suficiente pra eu respirar, mas também não é o insuficiente pra eu não respirar.. sinto-me sufocar.

E os olhos... quero fechá-los... mas não posso, tenho de me manter alerta, porque ele pode por mim passar e, se eu não estiver de olhos bem abertos, não o vou enxergar.

E eu tenho de lutar, porque da mesma forma que posso não chegar a nenhum lugar, posso chegar... então, tenho de lutar, de me sustentar. Não posso desistir, não quero desistir... mas na mesma intensidade tudo o contrário em mim.

É exatamente assim que me sinto... sinto muito.

domingo, 14 de abril de 2013

Será que qualquer sofrimento começa com felicidade... Será que na vida sempre é um intercalar de alegria e dor? Li uma vez que 'o sofrimento é um intervalo entre duas felicidades'. Quem disse isso, se não me engano, foi Vinícius de Moraes. Então, a vida de qualquer um é felicidade... sofrimento... felicidade.

Hoje me agarro a isso. Um palhaço, balões coloridos... felicidade. Agora estou no momento sofrimento. Daqui a pouco será a hora da felicidade. Isso me mantém viva... me fortalece... me mantém na luta, respirando... viva.

Sabe, eu sei que todo mundo tem seus sofrimentos. Sei que pra qualquer humano a sua dor é a sua dor... é a maior dor do momento. E eu não desmereço essa dor... eu tenho empatia pela dor do outro... muita empatia. Consigo me colocar no lugar da pessoa que está sofrendo e entendê-la... se posso, ajudo a diminuir; se não posso, pelo menos ofereço meu ombro.

Se você está num momento sofrimento, saiba que sinto muito... posso até deixar uma palavra reconfortante, posso até dizer algo que dê esperança e ajude você a enxergar uma luzinha lá no fim do túnel - porque sempre há uma luzinha esperando por você.

Mas eu, com a minha dor, agora sou toda trevas. Quando olho pra trás, vejo os balões coloridos... vejo o balão colorido que o meu menininho ia pegar... vermelho? amarelo?. Mas percebo que as cores dos balões estão desbotando... também a roupa colorida do palhaçoi está sumindo. Será que todas as cores irão desaparecer da minha memória?

Agora, neste exato momento em que escrevo, uma culminação de sofrimento toma conta de mim. Sofre meu corpo, sofre minha alma.

Sou só trevas... não há mais balões coloridos... não há mais palhaços pra me fazer rir. Ou há? E apenas eu não consigo ver as cores... e apenas eu não consigo mais sorrir?

Espero que sim... espero que isso apenas esteja acontecendo comigo. Não desejo trevas pra você.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Acho que a morte é a solução pra um monte de coisas... e eu não posso nem morrer. O perdão é a solução pra um monte de coisas... e eu não consigo perdoar... nem tenho vontade de perdoar.

Se a morte não chega por conta própria na vida de alguém, e esse alguém quer a morte... ele pode se matar e fim. Mas eu não posso, nem isso posso. Até o direito de me matar a vida me tirou.

"Mamãe, olha o palhaço!" Tudo aconteceu tão rápido, foi questão de segundos. Virei, e meus olhos cruzaram com os olhos do palhaço... vi o sorriso do palhaço, de relance vi sua mão com um balão estendido na direção de meu filho.... a cor do balão... era vermelho ou era amarelo...

Meu filho largou minha mão, correu na direção do palhaço, do balão. E eu me desequilibrei. Bati no carrinho da bagagem. A sacola de lanches que estava em cima de tudo caiu.

Biscoitos... sanduíches... a garraafinha de água... tudo espalhado pelo chão. As laranjas... as três laranjas rolaram. Odeio laranjas ... elas são redondas e rolam... não caem e ficam onde caíram. Por que as laranjas são redondas? Por que levei laranjas? Nós poderíamos passar muito bem sem as laranjas.

Mas eu com a minha mania de que sempre tem de levar mais... e mais, pra quê?

As laranjas rolaram pra baixo de um banco e eu tinha de pegá-las... as malditas laranjas. Me arrastei embaixo do banco.... alguém, sem querer, chutou uma delas... e eu fui atrás. Meu Deus por quê?

Mas eu consegui. Eu consegui pegar de volta as três laranjas. Meu marido e uns passantes juntaram o resto do lanche que tinha se espalhado pelo chão. Graças a Deus... tudo normal.

E aí eu olhei na direção do palhaço.... dos balões... coloridos... como a vida deveria ser.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Inventam tantas coisas. Neste mundo de tecnologia tão avançada, porque ainda ninguém inventou uma arma que fizesse a vida ficar parada?

Quem inventou o relógio? O relógio que marca o tempo que passa? Por que não teve criatividade suficiente de inventar um 'antirrelógio'... um instrumento qualquer que congelasse o tempo? Ou que o fizesse voltar atrás?

O que era paz no tempo agora é dor. O tempo dói, dói dentro de mim, estraçalha cada parte de mim.... que vai se distanciando no tempo, que fique claro, só no tempo, daquele momento em que o tempo fez o seu trabalho e foi embora.

Um palhaço colorido, balões coloridos, mostrando como a vida pode ser colorida...

Um palhaço... um palhaço me transformou toda em ferida. Não há mais continuidade em mim, sou toda interrupções... sou uma ferida profunda: pele, ossos, músculos, cartilagens...

O coração em pedaços... e eu só tenho de perdoar... mas eu não consigo!
Foi o fim da minha paz... O que é viver em paz? Como conseguir viver em paz?

Viver em paz é, em primeiro lugar, perdoar a sim mesmo; depois, perdoar aos outros. Não necessariamente nessa ordem...

Perdoe e você se liberta dos rancores, evita dores, dissabores.... doenças do coração.

Dia após dia você vai se recheando de rancores, enchendo seu coração de mágoa... e aí acaba sua paz.

Meu Deus, eu não tinha o bolso cheio de mágoas, por isso eu vivia em paz... eu só conhecia a paz.

A chuva, eu odeio a chuva... ela me traz à memória o dia em que roubaram a minha paz.

Como perdoar? Me perdoar? Perdoar o outro?

Perdoo tudo... mas congela a minha vida naquele dia, naquele momento em que ouvi 'Mamãe, olha o palhaço!'.

Palhaço... palhaça... palhaços... é só nisso que consigo pensar.

Trave o tempo, pelo amor de Deus!


terça-feira, 9 de abril de 2013

 
Congela....e depois, se quiser, pode deixar desaparecer lentamente.... Não, de jeito nenhum... Congela o momento pra sempre. Terra, pare de girar. Sol, não saia de seu lugar. Lua, fique onde está. Pelo amor de Deus... congela.
 
Estação rodoviária de São Paulo... nosso destino o litoral. Vamos nos divertir um pouco, longe do barulho, da poluição. Terra e mar... sol e praia.
 
Nós três... Marco empurra o carrinho de bagagem. "Pra que tanta coisa", pergunta ele, "não vamos ficar apenas cinco dias?". E sorriu... eu com a minha mania de colocar sempre uma peça a mais porque "pode precisar".
 
A cena é perfeita... é a imagem de propaganda de margarina, de apartamento, de protetor solar... sei lá... mas é perfeita. Então, não precisa mudar.
 
Marco e as bagagens. Eu e Marquinho de mãos dadas... a viagem.
 
O palhaço...
 
Congela, para tudo... não precisa continuar, eu deixo!
 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Toda história tem um começo... esta tem o começo com o fim da minha paz, da minha sobriedade, da minha serenidade, da minha fé na vida, na humanidade.

São Paulo, 25 de setembro de 2000, 10 horas. Chove, chove e chove.

Estação rodoviária, meu marido, Marco; meu filho, Marco Aurélio; eu.... e um monte de bagagem...

Continua (mas eu juro que queria que fosse fim... aí, exatamente neste ponto).