domingo, 6 de abril de 2014

Meu marido me segurou nos braços não sei quanto tempo... choramos o choro guardado, o choro comprimido em nossos peitos desde o dia em que levaram nosso filho... Meu Deus, como nós amamos nosso pequeninho... e esse amor agora tem de ficar guardado em algum lugar dentro da gente... guardado... não pode ser usado... só porque alguém mau, muito mau tirou nosso bebê de nossas vidas.

Quando não tínhamos mais lágrimas, nem forças... nos arrastamos pra dentro de casa. Meus pais, os pais de meu marido... irmãos, irmãs... outros parentes... amigos... vizinhos... e até alguns estranhos formavam um pequeno grupo de pessoas em frente à nossa casa... na nossa sala... na nossa cozinha.

Larissa, minha melhor amiga, com os olhos vermelhos e parecendo carregar toda a tristeza do mundo em seus ombros me abraçou... delicadamente. Larissa é tão delicada... tudo nela é de uma amabilidade sem tamanho.

- Você não quer um chazinho? - me perguntou.

Não respondi, não sei o que acontece comigo, mas há momentos em que meus lábios se fecham de tal forma que, por mais esforço que faço, não consigo movê-los... Acho que ela entendeu meu silêncio como um sim... ou como um não... não sei... ou eu entendi errado... não sei... só sei que quando me dei conta, eu estava sentada numa banquetinha na minha cozinha, com um prato de sopa em minha frente... e uma mão me alimentava... Larissa com toda a sua serenidade e delicadeza me alimentava... como se eu fosse um bebê.

E eu.... eu abria a boca quando a colher se aproximava... engolia o que nela entrava... assim fiz até Larissa dizer:

- Que bom!!! Você tomou todinha a sopa... agora é só descansar.

E eu sorri... um sorriso que não era um sorriso... e pensei: como é que a gente descansa da falta de um filho... como é que a gente descansa dos pensamentos horríveis que se encrustam na mente... pensamentos... meu Deus... já nem distingo mais meus pensamentos - um a um -... os meus pensamentos viraram uma massa pesada, escura e suja dentro da minha cabeça.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Enquanto penso, todos os que ainda estão vivos continuam levando a sua vida - bem ou mal, mas estão levando. Pode também ser que haja alguns que tenham desistido... o fardo era tão pesado que eles largaram num canto qualquer e, sem medir as consequências, saíram 'da vida batendo a porta'. É isso que li uma vez... quem tira a própria vida sai batendo a porta. Com toda a força... pra mostrar quem manda... pode ser que neste momento em que eu penso, os que estão vivos seguem com sua vida, existam alguns batendo a porta.

Eu gostaria de ter essa atitude corajosa... gostaria de sair batendo a porta. Mas eu não posso. Já não sei mais se não posso porque sou fraca... ou se é porque realmente acredito que meu bebê vai voltar... não sei. A única coisa que sei é que tenho de acreditar que ele vai voltar... e, enquanto ele não volta, vou sobrevivendo - com o mínimo para viver.

Também penso que talvez o suicídio não seja um ato corajoso... que só os fracos tiram sua própria vida... não sei... me pego divagando cada dia mais. Parece... não, não parece... estou mesmo é vivendo mais dentro da minha cabeça do que em qualquer outro lugar.

Eu queria que o mundo de cada um fosse do tamanho da casa de cada um. A casa da gente - existe melhor lugar pra se chegar? melhor lugar pra se ficar? Tudo é conhecido... cada cantinho está lá na cabeça do gente exatamente do jeito que é... você sabe onde procurar o que é seu - mesmo que você seja um desorganizado de marca maior, você sabe que o que procura está no limite da sua casa... pelo menos 99% das vezes.

Mas o mundo é vasto demais... e muda o tempo todo... e eu fiquei quase um dia inteiro sentada numa praça fazendo o quê, meu Deus do céu...!!??