sábado, 22 de fevereiro de 2014

Não sei quanto tempo passou... o Sol mudou de lugar... o vento já era outro... quando decidi que tinha de voltar.

Levantei lentamente e me dirigi pra casa. Meu corpo doía, minha cabeça latejava, meus pés estavam formigados... meu estômago tinha espasmos.... na minha boca um gosto amargo... um gosto metálico, minha visão turva... será que estou precisando de óculos?

Mas eu queria a dor, queria mais dor ainda, queria no meu corpo toda a dor do mundo... pra suplantar um pouquinho a dor do meu coração.

Voltei com um passo atrás do outro. Uma senhora baixinha e gorducha com um chapéu engraçado na cabeça passou por mim... conversando, conversando com seu cachorrinho. Que cachorrinho feio e ela tentou enfeitá-lo com lacinhos coloridos.

Quanto tempo não acho algo engraçado, nem ridículo. E aquela mulher tagarelando com seu cachorro era extremamente ridículo. Ela seguia sua vida sem prblemas, sem dor, pensei na minha dor. Mas logo me censurei. E daí se ela está feliz? E daí se a vida dela se resume àquele cachorrinho horroroso, sem pelos e com lacinhos? A vida é dela e ela pode gastá-la com quem quiser... como quiser.

Acho que estou me tornando uma pessoa amarga. Não posso, tenho de controlar esse tipo de pensamento O mundo, ou pelo menos o mundo que não se envolveu no roubo do meu filhinho, não tem culpa da minha tristeza, da minha dor, da minha desesperança no mundo.

Quando já estava bem próxima de casa vi um movimento de carros, pessoas na frente dela. Quando cheguei ao portão, meu marido correu na minha direção.

- Onde você estava? - gritou ele.

- Eu... eu... saí procurar nosso filho... - falei num fio de voz.

Quando vi a nuvem de dor nos olhos dele me dei conta do que eu havia feito. Não bastava a dor pelo nosso bebê... eu havia, com meu sumiço, causado mais dor ao segundo homem da minha vida e que tanto amo.

Abracei-o e chorei... mais uma vez... só que agora foi um choro não escondido, foi o choro que estava engasgado desde o sequestro de nosso filho... E meu marido chorou, também.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

O sol vai aparecendo devagarinho... seus raios tímidos parecem sorrir melancolicamente diante da minha empreitada: sair pelo mundo em busca do meu garotinho. Eu vou... pra onde? Já li algo mais ou menos assim: 'pra quem não sabe aonde ir qualquer caminho serve'. Nunca algo coube tão bem em uma pessoa.

Não sei pra onde ir.

Dou passos a esmo... sigo a rua à minha frente, viro à direita... sigo em frente... viro à direita de novo, sigo em frente, viro à direita, sigo em frente... ou virei à esquerda? Já não lembro mais. Meus pés reclamam. Paro. Não sei onde estou. Sento na calçada e choro, e choro e choro.

Sei que o choro não vai resolver nada. Mas tenho que chorar, preciso chorar... até minhas lágrimas secarem. Daí pararei.

Olho pro sol... não sei quanto tempo passou. Penso: quantos filhos são aquecidos neste momento por este sol e suas mães nem se dão conta... nem se dão conta de que têm seus filhos sob seu olhar, sob sua proteção.

Por que a gente tem de perder pra ter a consciência de que se tivesse ainda abraçaria com todas as forças e seguraria colado no corpo pra não perder nunca?

Queria derreter como o gelo derrete ao contato do sol.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

O ar fresco da manhã toca meu rosto, fecho os olhos e paro... consciente total daquele momento. Consciente total da insanidade da minha ação... Por que ruas devo seguir? Em que esquina da vida encontrarei o meu bebê?

Sim, eu tenho fé, a maior fé do mundo de que ele está em uma esquina qualquer... um pedinte no meio de tantos outros... e eu vou encontrá-lo. Mas pra que lado irei? Que rumo tomarei?

É certo que qualquer direção pode me levar à minha esperança... todos os caminhos são caminhos de esperança... mas também é tão certo que qualquer direção me levará a mais trevas... qualquer rua que eu escolher poderá acabar em trevas.

Eu não quero ter essa consciência... quero me deixar levar apenas pelo instinto de mãe... quero ter o mesmo 'poder' de uma mãe morcego e encontrar meu anjinho - que não deve estar entendendo nada do que está acontecendo...

Choro....

Faz dias que parece que não acordo de verdade... agora estou mesmo é no meio de um pesadelo.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

A noite se arrasta... deitada, com os olhos fechados, espero por um sono que não vem... insônia o tempo todo - grande parte da população mundial sofre de insônia.... então, por que vou reclamar? Ansiedade, tristeza... beirando a depressão... quanta gente no mundo está passando por isso agora. Então, por que vou sentir pena de mim?

E eu que dormia tão bem...

Ouço os barulhos da noite... o vento balançando os galhos das árvores, o alarme de um carro que disparou... os passos rápidos de alguém na calçada... o meu coração que bate forte.

A escuridão da noite vai embora lentamente. Os primeiros raios de sol me encontram pronta pra sair. Vou andar pelas ruas da minha cidade, e da cidade próxima, e da próxima, e da um pouquinho  mais distante... vou andar pelas ruas do mundo. Eu vou em busca do meu menino, hoje.

Abro o portão da minha casa, coloco meus pés lentamente na calçada... dou o primeiro... o segundo passo... sinto o mundo rachando sob meus pés... mas eu vou em frente, não importa se um buraco me tragar, me engolir sem mastigar.